Valor agregado no mundo da informação: um meio de criar novos
espaços competitivos a partir da tecnologia da informação (ti) e melhor satisfazer as necessidades dos clientes/usuários

 

Rosaly Favero Krzyzanowski Diretora Técnica do Departamento Técnico do Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo.

Trabalho elaborado para Mesa Redonda sobre Qualidade de Sistemas em Informação de Valor Agregado, na 5a Reunião do Sistema Latino Americano e do Caribe da Informação em Ciências da Saúde, dia 15 de outubro de 1996, Rio de Janeiro.

O conceito de valor agregado surgiu antes do século XV na área de economia, como índice medidor de bens ou serviços. Em tempos passados a idéia de valor verdadeiro, envolvia a apreciação ética e moral prevalecendo sobre os motivos econômicos.

Entre os séculos XVI e XVII passa, no entanto, a predominar a teoria dos mercantilistas. O valor deixa de ser determinado pelas forças morais e filosóficas para ser determinado pelas forças competitivas.

Em sua obra "Riqueza das Nações", 1776, Adam Smith advoga que o valor de qualquer bem ou serviço era igual a quantidade de valor despendido. Sua maior contribuição para a economia como ciência foi, no entanto, o seu estudo analítico sobre o impacto da divisão de trabalho e seu desenvolvimento lógico do sistema de preços, no qual o valor de troca era o centro da vida econômica.

A partir daí, vários estudiosos, economistas famosos, contribuíram para a melhor compreensão do termo valor. Essa evolução passa a ser constante e renovada considerando que há inúmeros tipos de valor para mesurar o significado econômico que as individuais atribuem a um bem ou serviço dependendo das inovações e tendências ocorridas no nosso meio sócio-econômico-cultural (DE Luca, M.M.M., 1991).

Estreitamente relacionada com o conceito de responsabilidade social, a demonstração de valor agregado surgiu na área econômica, para atender às necessidades de informação dos usuários sobre o "valor da riqueza gerada pela empresa e sua utilização".

Na atualidade, as transações econômicas sofrem profundas mudanças por influência do mercado virtual, no qual: a) o conteúdo da transação é um conjunto de fluxos de informação sobre os materiais da transação; b) o contexto é uma situação de licitação efetuada eletronicamente; c) a infraestrutura é um conjunto de computadores conectados via telecomunicação. Estes três itens também são a base para tratar do tema valor agregado na área da informação.

O mercado físico/tradicional não permite separar o contexto, conteúdo e infraestrutura, impedindo buscar novas formas de agregação de valor, baixar custos, construir novas relações com aliados não tradicionais ou repensar a organização da empresa. Ao contrário no mercado virtual é possível, através da Tecnologia da Informação, agregar ou alterar o conteúdo, trocar o contexto da interação (relação espaço e tempo) e oferecer variedade de conteúdos, através de diferentes infraestruturas. (RAY PORT, J.Y Sevicklla, T., 1994)

A organização virtual é capaz de produzir resultados que, no mínimo, são iguais aos obtidos pelas concorrentes tradicionais numa base menor de ativos, permitida pela TI em termos de tempo, local e espaço. (PAULA, G.M., 1996)

Como exemplo temos a "American On line", no Estados Unidos, que incorpora em seus serviços informativos, vários periódicos dos Estados Unidos e Europa agregando valor, aos assinantes desses periódicos tradicionalmente apresentados, mediante a desagregação de seus conteúdos, contextos e infraestruturas, utilizando a digitalização dos mesmos e disponibilizando-os através da Word Wide Web (WWW = sub-conjunto da rede Internet, formado por várias páginas unidas mediante hiper-texto, podendo ainda ligar-se a outras páginas existentes em outros espaços da Internet).

Com essa sistematização as organizações concorrem em 2 mundos: naquele dos recursos físicos, onde os indivíduos podem trocar e ver os produtos e no do virtual feito por informações.

Neste novo mundo as empresas não só tem a possibilidade de criar novos mercados e novas relações com mercados existentes, como também criar valor adicionado à informação em qualquer estágio de uma cadeia de valor virtual (virtual value chain), observada a seqüência das seguintes atividades (PAULA, G.N., 1996) (Figura 1):

Atividades do "virtual value-chain"

  1. Levantamento
  2. Organização
  3. Seleção
  4. Síntese
  5. Distribuição

A questão, portanto, resume-se no fato de que é possível oferecer serviços/produtos mais rápidos, qualificados, flexíveis e mais baratos no mercado, com o emprego eficiente da TI, do que fazê-lo de forma tradicional.

Nesse ambiente caracterizado por novos desafios de concorrência de mercado, para se alcançar a liderança é indispensável alcançar a melhor perfomance. Para isto é preciso, segundo Hamel e Prahalade, criar valor agregado em três frentes (Figura 2):

  • administrando a "perfomance gap": como aperfeiçoar a perfomance (utilizando qualidade, custo, produtividade, etc);
  • administrando o "adaptability gap": como antecipar mudanças no setor e adotar iniciativas frente às transformações do mercado em que atua;
  • administrando o "opportunity gap": como capacitar-se para identificar, criar e explorar novas oportunidades de negócio, isto é, criar valor no futuro o que supõe administrar o grau de aspiração, captar recursos, criar novos espaços competitivos e energizar toda a organização.

A visão do futuro compartilhada pelos membros da organização, é um dos fortes diferenciais competitivos da atualidade.

Neste contexto temos o exemplo da Bireme - Centro Latino Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, criada em 1967, com o objetivo de "contribuir para o melhoramento da atenção à Saúde na América Latina, mediante o estabelecimento de um sistema regional de informação que, através de rede cooperativa, satisfaça a necessidade de informação do profissional da área da Saúde, em qualquer nível e lugar que se encontre".

"O estabelecimento da Rede Regional de Informação na área Sáude, pautado na cooperação mútua entre os países participantes, exigiu a criação de metodologia que, incluísse definições claras de alcance temático, critérios de seleção, vocabulários controlado, normas de descrição bibliográfica, procedimentos para análises de conteúdo e, principalmente, sua introdução em meio eletrônico". (Bireme, 199__)

Utilizando recursos da Tecnologia da Informação, a BIREME vem oferecendo serviços/produtos com valor agregado ao consumidor/usuário, tais como:

  1. Lilacs - disponibilizada via on-line e em CD-ROM. O Lilacs/CD-ROM agrega a base SECS ( Catálogo Coletivo de Publicações Periódicas dos Acervos das Bibliotecas da Rede Latino-Americana e do Caribe da Informação em Ciências da Saúde), além de outras bases elaboradas pelas Bibliotecas integrantes do Sistema Regional tais como: Repidisca, ECO, Adolescência, Leys, Oncodisc, Excepta Medica (Medicina e Biomedicina), ADSAUDE, B.B.O. entre outros.
  2. BITNIS - permite o acesso às bases de dados da N.L.M, via correio eletrônico.
  3. Comutação on-line - fornecimento de cópias reprográficas, mediante solicitação via on-line.
  4. DECS - descritores em ciências da saúde, disponíveis on-line e agregado ao LILACS/CD-ROM

Estes serviços/produtos, dentre outros construídos pela BIREME, com a cooperação das Instituições membros da Rede Regional, demonstram sua preocupação em desenvolver competências/recursos para garantir o espaço atual e o futuro (não previsível), utilizando as inovações tecnológicas aplicadas à área da informação e adotando valores agregados, que lhe permitirão manter e ampliar as vantagens competitivas já existentes.

Referências Bibliográficas

 

SMITH, A. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. São Paulo: Civita, 1983. v.1, p.63.

DE LUCA, M.M.M. Demonstração do valor adicionado. São Paulo: FEA/USP, 1991. 104p. (Dissertação de Mestrado - FEA-USP)

RAYPORT, J; SEVICKLLA, T. Managing in the marketspace. Havard Business Review, p.141-153, nov./dec. 1994.

PAULA, G.N. Como criar valor ... para o futuro. Trevisan, v.9, n. 103, set. 1996.

HAMEL, G. PRAHALADE, C.K. Competing for the future. Havard Busines School Press: Boston, Mass., 1994.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. BIREME. Sistema Regional de Informação em Ciências da Saúde. São Paulo: BIREME, (199 ?).